Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Os segredos do bar do Seu Nacib, o botecão de Gabriela, Cravo e Canela

Poucos autores descrevem tão bem a tradição do boteco no dia a dia de uma cidade como Jorge Amado em Gabriela, Cravo e Canela, escrito em 1958.

O Vesúvio, o bar do seu Nacib, é o centro da história — apesar da novela global ter dado mais espaço à casa de saliências Bataclan do que ao botecão, inspirado em um endereço aberto nos anos 1920 e que até hoje funciona no centro de Ilhéus.

O livro é uma aula para quem abrir um bar bom. Logo que assumiu o ponto, está lá escrito, seu Nacib deu um trato no lugar: ‘pintou tudo de novo, fez mesas novas, trouxe tabuleiros de damas e gamão, se livrou da mesa de bilhar e construiu um reservado, nos fundos, para a mesa de pôquer‘.

Ele soube investir. ‘Nada de dançarina (quem lembrou aí da epidemia de TVs em bares?), eu quero é uma cozinheira boa’. O objetivo era garantir um bom serviço de doces e salgados na hora do aperitivo, o que foi fundamental para o bar do árabe superar os concorrentes Café Ideal, o Bar Chic e o Pinga do Ouro.

Cardápio, claro, baiano: ‘acarajés, abarás, bolinhos de mandioca, fritadas envoltas em folha de bananeira, pastéis e empadas de camarão; e frigideiras de siri mole, de camarão e bacalhau. Doces de aipim e de milho‘.

O livro revela curiosidade dos hábitos locais em 1925, que é quando se passa a história. Os horários de maior movimento eram um pouco antes do almoço, para o aperitivo (tinha também quem encarava o balcão para um digestivo depois da refeição); no final da tarde (a partir das 5 horas) e depois da sessão do cinema. Apesar da farta oferta de comida, ninguém ia até lá para almoçar ou jantar. Onze da noite já não tinha mais ninguém – era hora do Bataclan e de outros cabarés.

Todos os personagens masculinos da história passam por lá: Mundinho Falcão, o poeta Argileu Palmeira, o dono do jornal o professor Josué, o coronel Amâncio Leal, o coronel Melk Tavares, o juiz de direito, o dono do cartório…

Qualquer um que quisesse estar por dentro do que ocorria na cidade parava ali para um dedo de prosa e uma cachacinha, apelidada por alguns de absinto de caboclo. O bar também servia ‘conhaque puro, vermute sem mistura, o porto e o madeira sem batismo’. Era o cantinho preferido para falar de traições, crimes passionais, de política e, claro, para ver Gabriela passar na hora que levava o almoço para o seu Nacib.

O árabe era figura querida. Todos gostavam dele e sempre tinham uma confidência. Como bom dono de bar, ele sabia ouvir e trazia consigo um lema precioso: ‘Dono de bar não pode se envolver com política. Só traz prejuízo“.

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Posts relacionados:

Entrou água no chope do Festival Brasileiro da Cerveja

Entrou água no chope do Festival Brasileiro da Cerveja

Um dos principais eventos nacionais do mercado de microcervejarias vive um daqueles impasses que seriam cômicos, se não fossem trágicos: o Festival Brasileiro de Cerveja está sendo anunciado com o mesmo nome para as mesmas datas e horários, em duas cidades diferentes.

Estamos falando de uma festa grande. Neste ano atraiu, em março, mais de 30 mil pessoas para experimentar bebidas de quase uma centena de fábricas de todo o Brasil em Blumenau (SC), no mesmo espaço em que ocorre, em outubro, a tradicional Oktoberfest. O Concurso Brasileiro de Cervejas, que acontece simultaneamente, recebeu inscrições de 567 cervejarias de 21 Estados

Escritores (muito) bons de copos

Escritores (muito) bons de copos

Imagine reunir em uma mesa de bar Ernest Hemingway, Edgar Allan Poe, Truman Capote, Scott Fitzgerald e outros escritores bons de copo. O roteirista Mark

Gim premium japonês será produzido em destilaria neutra em carbono

Gim premium japonês será produzido em destilaria neutra em carbono

O cuidado em se alinhar com as preocupações ambientais começa, aos poucos, a aparecer na indústria de bebidas. A produtora japonesa do gim premium KI

O legado da xilogravura de J. Borges nas garrafas da Cachaça 51

O legado da xilogravura de J. Borges nas garrafas da Cachaça 51

Dá, sim, para fazer marketing de bebidas de maneira inteligente e, ao mesmo tempo, valorizar a cultura brasileira.

Um exemplo é a ação da Companhia Müller de Bebidas para vender sua Cachaça 51 nas festas juninas nordestina.

A empresa paulista convidou o pernambucano J. Borges, mestre brasileiro da xilogravura, para fazer as embalagens das garrafas e latas de sua marca para a temporada.

Vinho do Porto envelhecido por 80 anos traz aromas de nozes, mel, café e figo

Vinho do Porto envelhecido por 80 anos traz aromas de nozes, mel, café e figo

Envelhecer bebidas alcoólicas combina tradição e ciência em busca de sabores cada vez mais únicos. Os produtores de vinho do Porto resolveram elevar essa arte que tão bem dominam a um patamar mais alto.

O Instituto do Vinho do Porto e do Douro criou no início do ano a classificação 80 anos para os Tawny, sua variedade que tem um envelhecimento prolongado. Para ter essa distinção no rótulo, o blend precisa ter idade média com, no mínimo, 8 décadas de guarda. Em outras palavras, são utilizados vinhos produzidos com uvas cultivadas na primeira metade do século XX.