As autoridades responsáveis por promover o vinho no Chile deram mais um passo para ampliar as fronteiras de sua bebida nacional.
No fim de julho, eles estabeleceram a Denominação de Origem Rapa Nui, com a intenção de identificar os vinhos produzidos com uvas cultivadas na Ilha de Páscoa, território chileno localizado a cerca de 3.700 quilômetros de Santiago, no meio do Oceano Pacífico, um dos locais mais isolados do planeta.
A decisão tem um olho pensando no potencial turístico de ter vinhedos ao lado das impressionantes Moais (as gigantes estátuas de pedras de origem pré-históricas adoradas pelo povo Rapa Nui) e o outro pensando em evitar que a referência ao local seja usada apenas como marketing: agora, para dizer que um vinho é da Ilha de Páscoa, terá de obrigatoriamente ter sido elaborado com uvas cultivadas ali.
O solo vulcânico, o clima subtropical e a baixa umidade são fatores que deixam animados os amantes de novas experiências com vinho.
Um artigo publicado em março deste ano em uma revista científica de botânica da Nova Zelândia mostrou que foram encontradas seis variedades de uvas viníferas na ilha, em vinhas velhas, ainda em produção.
Embora haja referências históricas ao plantio de vinhedos na ilha no final do século XIX, acredita-se que esses vinhedos tenham sido abandonados quando os missionários deixaram a ilha no início do século XX.
Cinco delas foram identificadas, indicando terem sido levadas até ali a partir da área continental chilena. São elas a País e a Moscatel de Alexandria (duas das primeiras espécies que se acredita tenham sido plantadas nas Américas) e três tipos nativos. Uma delas, no entanto, ainda é um mistério, embora tenha sido reconhecida sua ancestralidade europeia.
As amostras foram coletadas de vários locais, principalmente dentro e ao redor da cratera do Rano Kau, um dos três vulcões da ilha, que foram avistadas por navegadores europeus pela primeira vez em 1722.
A produção local ainda é minúscula, limitadas a iniciativas experimentais.
Os viticultores Alvaro Arriagada e Fernando Almeda iniciaram, em 2018, um projeto para levar uma viticultura de alto padrão à Ilha de Páscoa.
Juntamente com parceiros locais, eles plantaram cerca de dois hectares Chardonnay e Pinot Noir, em um solo argiloso e com uma boa quantidade de matéria orgânica, próximo justamente do Rano Kau. Com a primeira vindima, produziram seu primeiro espumante.
Mais ou menos na mesma época, o engenheiro comercial José Mingo iniciou uma dobradinha com José Tuki, o maior produtor de abacaxi da ilha. Hoje, eles têm cerca 5.000 videiras, em uma área de 1,5 hectare, com os quais produziram 100 garrafas de seu primeiro vinho, o Manu Tahi, um blend de 55% Syrah, 40% Grenache e 5% Carignan.
“A ilha é um laboratório sem experiência anterior, onde trabalhamos por tentativa e erro, por isso plantamos de tudo: Moscatel de Alexandria, Syrah, Chardonnay, Grenache, Viognier, Pinot Noir, Merlot e Petit Syrah, para ver como se saíam”, disse Mingo ao diário Las Últimas Notícias, de Santiago. “Para nossa surpresa, apesar da influência marinha, as variedades tintas tiveram melhor de desempenho.”
Que sejam os primeiros de uma longa série da DO Rapa Nui.